Pesquisador canadense apresenta panorama da disciplina ‘História Ambiental’ ao longo do tempo

07/07/2016 07:07

Na palestra “Tempo, espaço e natureza: relações entre Geografia, História e História Ambiental”, o professor canadense Graeme Wynn apresentou um panorama da disciplina “História Ambiental” ao longo do tempo. Graeme abordou as raízes do pensamento geográfico, desde o início do século XX, passando por suas diferentes influências e transformações, até chegar na contemporaneidade. Segundo o pesquisador, por muito tempo a geografia teve como objeto o espaço. Diversos pensadores foram fundamentais para trazer novas perspectivas para a disciplina. “Quando a geografia se restringia ao espaço, a natureza era deixada de lado. Por isso foram muito importantes os autores que apresentaram um novo olhar e consideraram também a relação do homem com o meio ambiente”, explica.

Graeme destacou a influência da geógrafa norte-americana Ellen Churchill Semple: “Ela disseminou a ideia de que as pessoas são produtos de seus ambientes. Cada um se desenvolve diferentemente, conforme o local onde vive”. Para a autora, a influência do ambiente se dá desde os aspectos físicos do indivíduo — membros de determinada população indígena teriam ombros largos e pernas finas por viverem em ilhas e remarem diariamente — até na espiritualidade — moradores de regiões montanhosas teriam a tendência de venerar muitos deuses, enquanto habitantes de planícies seriam monoteístas. Para Ellen, portanto, inclusive a religião seria determinada pelo ambiente.

Outros autores, entretanto, desenvolveram diferentes formas de pensar a Geografia. Para Carl O. Sauer, não era a natureza que determinava o indivíduo, mas sim o contrário. “Para ele, eram os humanos que interferiam e influenciavam na constituição do ambiente”, explica Graeme. Os desmatamentos e muitas outras modificações na paisagem são exemplos disso. O professor discorreu também sobre outros pensadores, que tiveram uma visão mais holística da relação do ser humano com o meio ambiente. Nesse contexto, surgiram muitos conflitos entre os campos da História e da Geografia na academia — e também sobre a área de atuação da História Ambiental. “Hoje já não existem tantos desacordos entre geógrafos e historiadores ambientais. A História Ambiental se apresentou como um campo de estudos maravilhoso, aberto e que vem agregando cada vez mais pesquisadores”, finalizou Graeme.

A atividade foi promovida pelo Laboratório de Imigração, Migração e História Ambiental (Labimha), em parceria com os programas de pós-graduação em História (PPGHistoria) e Interdisciplinar em Ciências Humanas (PPGICH). O professor Graeme Wynn esteve na UFSC para reunir-se com o reitor e conhecer a universidade que sediará, em julho de 2019, o 3º Congresso Mundial de História Ambiental. O evento é promovido a cada cinco anos e será a primeira vez que ocorrerá fora da Europa. A primeira edição foi realizada em 2009, em Copenhague, Dinamarca. A segunda, em 2014, foi sediada pela Universidade do Minho, em Guimarães, Portugal.

A organização do Congresso ocorre por um consórcio de três instituições internacionais: Sociedade Latino-Americana e Caribenha de História Ambiental (Solcha); American Society for Environmental History (Aseh); European Society for Environmental History (Eseh). Os eventos anteriores reuniram cerca de 800 participantes. A professora Eunice Nodari, integrante do Labimha, ressalta que contribuiu para a escolha da UFSC como sede o fato de haver aqui um grupo de estudos sobre o tema já consolidado e reconhecido internacionalmente.

Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC